domingo, 20 de março de 2016

Apenas estudo clínico é inovação?


Muito me incomoda a propagação de que não ter estudos clínicos no Brasil é uma barreira à inovação no Brasil. Outra afirmação é que as universidades "só fazem pesquisa básica e não aplicada". Jargões tomados como verdades.
Primeiramente, ter estudos clínicos no País ajuda regulatória e estrategicamente uma substância inovadora ser incorporada/ importada ao Brasil mais rapidamente. Mas daí o Brasil estar avançando em inovação é algo completamente diferente. E estamos muito distantes disto. Basta ver quais empresas brasileiras fazem estudos clínicos de moléculas Made in Brasil. (Convido o leitor a me listar abaixo no campo de comentários).
A palavra inovação é usada indiscriminadamente por todos; se é um pouco diferente, é inovador. O Manual de Oslo abriu este precedente. Inovação em produto, serviço, processo, educação (...). 
Não desmerecendo os demais tipos mas, se houvesse uma escala de inovação, sem dúvida elegeria as inovações que culminassem em um produto ou serviço realmente inovador, com o real sentido da palavra. Algo que quebrasse um paradigma, mudasse um hábito, melhorasse a qualidade de vida em relação à uma condição anterior. Independente de ser incremental ou disruptiva ( não quero nem entrar neste mérito).
E quando vejo um relatório do Pintec dizendo que estamos inovando, me questiono: quem está míope? O questionário ou os respondentes? Comprar um equipamento novo (apenas) para sua empresa significa que está inovando? No máximo está comprando a inovação de outrem para, quiçá, fazer algo inovador... Se for capaz.
E somos. Mas até quando seremos um País de imitadores? Nos falta educação? Nos falta auto-estima? Creio que falta ambos.
Na parte da educação, como estão os avanços e atividades em prol da saúde? Concordo em gênero, número e grau que na maioria das vezes a quantidade de artigos é mais importante que qualidade e relevância para a sociedade (é o sistema, infelizmente); e talvez daí ter surgido o rótulo que não temos inovação porque só fazemos pesquisa básica. Mas justamente não evoluímos em inovação em saúde porque NÃO fazemos pesquisa básica.
Para desenvolver um medicamento, é importantíssimo entender a fisiologia da doença a nível celular. É preciso desenvolver modelos químicos que preencham estes gaps. É preciso desenvolver a melhor forma farmacêutica para atingir o alvo. É preciso saber como pesquisar esta substância em organismos vivos. É preciso............ Como estamos nisso, Universidades? Estamos conversando entre pesquisadores, pesquisas e instituições para aumentar e unir forças em prol da sociedade ou estamos mergulhados no ego? Na pesquisa que fiz, há potencial para mudança. Que utilizemos o melhor lado do brasileiro (criativo, resiliente, perseverante) para sair da inércia, ousar mais e dar o primeiro passo para a mudança. 
Amém.

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